Velar por Ela, livro de Jean-Baptiste Andrea, e Mad Men, série da AMC
Pedro Ernesto Rocha e Katryn Rocha
Velar por Ela, livro de Jean-Baptiste Andrea
Preciso confessar que se alguém me dissesse que o livro que eu começaria a ler contaria a vida de um escultor com nanismo, provavelmente eu não o leria. Acontece que ganhei o livro de presente de aniversário da minha esposa Carol e do meu filho Hugo, e, além disso, vem escrito na capa “Vencedor do prêmio Goncourt 2023”. Então, foi difícil simplesmente largá-lo de lado.
Velar por Ela, de Jean-Baptiste Andrea, publicado pela Vestígio, é um livro no qual o clichê para definir o que é um bom livro se encaixa perfeitamente: você lê devagar para não acabar.
A história gira em torno da vida de Mimo, um escultor com nanismo, nascido na França e despachado pela mãe ainda criança para a Itália. Na Bota, Mimo conhece seu talento e conhece Viola Orsini, a única herdeira mulher da família aristocrata que domina o povoado em que Mimo vive.
Vários são os cenários abordados, tais como guerras mundiais, religião, fascismo, nanismo e direitos civis. Mas há dois assuntos que chamaram mais a minha atenção: o papel da Igreja na sociedade e a relativização das crenças por ela propagadas; e o papel da mulher na sociedade.
A Igreja é figura presente na história, por ser cliente de Mimo e por ser o seio do desenvolvimento de Francesco Orsini, irmão de Viola com aspirações eclesiásticas. Em dado momento da trama, Francesco, ou melhor, Bispo Francesco, depois de muito maquinar em prol dos interesses próprios e familiares, é questionado: “Tenho certeza de que você planeja esse golpe, de uma forma ou de outra, desde seus oito anos. Me diga uma coisa, Francesco, você realmente acredita em Deus?”. E sua resposta é de uma esperteza ímpar: “Acredito na Igreja, o que é a mesma coisa. Ao contrário dos regimes e dos tiranos, a Igreja não passa.”
A mulher na sociedade, por sua vez, é o próprio retrato daquilo que poderia ter sido, mas não foi. Viola é infinitamente mais inteligente e perspicaz do que os homens que lideram sua família (exceto Francesco, que é um poço de sagacidade, e muito se parece com Viola), mas passa a vida tendo seus sonhos e possibilidades tolhidos pela crença limitante que imperava no Século XX de que as mulheres são idiotas.
Velar por Ela é um livro marcante e refinado, que merece ser lido, aproveitado e aprendido. Não percam.
Pedro Ernesto Rocha
Coordenador da Equipe de Consultoria Societária do VLF Advogados
Mad Men, série da AMC
Criada por Matthew Weiner, Mad Men explora a publicidade como ferramenta para a construção da identidade estadunidense moderna, revelando como desejos e inseguranças são embalados e vendidos como produtos. A estética impecável não é mero ornamento, mas parte da crítica: tudo parece perfeito, mas por trás da superfície há um vazio existencial que consome seus personagens.
Don Draper, interpretado por Jon Hamm, é o epicentro dessa análise: um homem brilhante, sedutor, mas prisioneiro de suas próprias contradições. A série desconstrói o mito do self-made man, mostrando que sucesso e felicidade raramente coexistem. Cada diálogo e silêncio é carregado de tensão, reforçando a ideia de que todos estão performando papéis – seja no trabalho, no casamento ou na própria vida.
Do ponto de vista técnico, Mad Men é exemplar. Sua narrativa lenta e detalhista permite absorver nuances que vão além da trama. A trilha sonora e os figurinos não apenas ambientam, mas dialogam com os temas centrais: machismo, racismo, mudanças culturais e o nascimento do consumo moderno.
A excelência da série foi amplamente reconhecida pela crítica e pelas principais premiações da indústria. Ao longo de suas sete temporadas, Mad Men acumulou 16 Emmys, incluindo quatro vitórias como Melhor Série Dramática, feito que a coloca entre as mais premiadas da categoria. Jon Hamm recebeu oito indicações ao Emmy, vencendo em 2015 como Melhor Ator em Série Dramática. Além disso, conquistou 5 Globos de Ouro, incluindo Melhor Série Dramática e Melhor Ator para Hamm.
Mad Men não é nostálgica; é um espelho desconfortável que reflete as contradições do capitalismo e da identidade contemporânea. Sua força está na combinação entre rigor estético e profundidade temática, tornando-a uma das séries mais influentes da televisão.
A série está disponível no Prime.
Katryn Rocha
Auxiliar de Comunicação do VLF Advogados