Babilônia, livro de Yasmina Reza, e o horror nos filmes de Jordan Peele
Rafhael Frattari e Katryn Rocha
Babilônia, livro de Yasmina Reza
A autora e dramaturga francesa tem seu novo livro publicado no Brasil, depois do sucesso nos meios especializados de Felizes os felizes, e, sobretudo, da peça teatral Deus da Carnificina. E não é por acaso.
Yasmina retém como ninguém a solidão e frustração que acompanham as pessoas na sociedade atual. Na trama, um casal resolve dar uma pequena festa no seu apartamento, e convidam um casal vizinho mais velho, com os quais mantém uma relação superficial. O enredo passa pelo encontro, com várias personagens interessantes, outros menos, mas tem o ápice num insólito acontecimento após a festa, envolvendo os quatro vizinhos.
A escrita de Yasmina é bastante interessante, que passa da tragédia para o humor num instante. A obra mostra que conhecemos pouco as pessoas com quem nos relacionamos, mesmo as mais próximas. E que, além de segredos, todos também têm seus sonhos, quase sempre irrealizados. Livro curto, mas denso. Ótimo para conhecer a obra da autora.
Rafhael Frattari
Sócio-fundador responsável pela Área Tributária do VLF Advogados
O horror nos filmes de Jordan Peele
Conhecido pelos programas de comédia e imitações de celebridades, Jordan Peele chocou o mundo em 2017 com seu excelente filme de estreia Get Out! (Corra!), principalmente pelo fato de se enquadrar em um gênero tão diferente do qual os espectadores estavam habituados a vê-lo.
Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, o filme, protagonizado pelo fotógrafo Chris Washington (Daniel Kaluuya), é um grito sufocado da população negra nos EUA. Um thriller psicológico que usa o racismo liberal como combustível para o horror, transformando a casa grande da elite branca progressista em um laboratório de apropriação de corpos e identidades negras.
Dois anos mais tarde, Us (Nós) comprovou que o sucesso do primeiro filme não foi uma vã coincidência e que Peele se voltou ao cinema de horror para ficar. Acompanhando a família de Adelaide (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke), o filme funciona como alegoria para a dualidade humana, os doppelgängers que vivem à sombra do nosso conforto; os tethered, que apesar de antagonistas, não são monstros, mas sim reflexos esquecidos e marginalizados sem voz dos “eus” privilegiados da sociedade.
Em 2022, Peele retornou ao cinema com Não! Não Olhe! (Nope!), talvez sua obra mais ambiciosa. Se no primeiro filme ele te faz olhar para o que está dentro, no segundo, para o que está abaixo, no terceiro Peele te desafia a encarar o que está acima. Mesmo que o horror não seja necessariamente o que vem do espaço, mas sim do nosso desejo insaciável de transformar tudo em espetáculo. É um filme sobre olhar, sobre ser olhado e sobre o que acontece quando o ato de ver se torna uma forma de violência.
A criatura, que se alimenta de quem a encara diretamente, é uma metáfora poderosa, que representa a indústria do entretenimento, que tudo consome, inclusive seus criadores. É um western de ficção científica, um terror contemplativo, uma crítica à espetacularização da dor.
A trilogia informal de Peele é uma jornada que começa com o medo do outro, passa pela descoberta de que o outro é um reflexo de nós mesmos e termina com a constatação de que o olhar é poder e, também, prisão. Jordan Peele é um mestre do horror, não porque nos assusta, mas porque nos obriga a encarar o que evitamos. E isso, sim, é aterrorizante.
Os filmes estão disponíveis nos serviços de streaming disponíveis no Brasil.
Katryn Rocha
Auxiliar de Comunicação do VLF Advogados